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Por que o Google nem sempre exibe o “AI Overview” no topo da SERP? (e o que isso significa para o SEO)

A recente introdução do “AI Overview” (ou Visão Geral da IA, em português) nos resultados de busca do Google gerou uma onda de debates e, em alguns casos, de receio na comunidade de SEO. A verdade é que, por décadas, o Google continua a reimaginar e expandir o que a Busca pode fazer, e as novas tecnologias de IA estão tornando as experiências de busca mais personalizadas e fáceis do que nunca.

Apesar disso, a preocupação é legítima: se as respostas geradas pela inteligência artificial sanam a dúvida do usuário diretamente na página de resultados, a taxa de cliques (CTR) pode despencar, prejudicando o tráfego dos websites. Mas e se a pergunta correta não for “se ele vai acabar com meu tráfego”, mas sim “por que ele aparece em posições inferiores (e não no topo)?” ou “por que ele não aparece para todas as consultas?”

A resposta para essa questão nos leva ao cerne do algoritmo de ranqueamento do Google, um sistema complexo que prioriza um único objetivo: fornecer a resposta mais útil e confiável para o usuário. A posição de cada resultado – seja um link de site, um snippet destacado ou um AI Overview – não é aleatória, mas sim resultado de uma avaliação minuciosa de diversos fatores.

Analisamos o documento oficial do Google “AI Overviews and AI Mode in Search” e vamos explorar os principais motivos por trás desse comportamento.

1. Por que o AI Overview aparece em posições inferiores (e não no topo)?

Quando o AI Overview é exibido, mas não no topo, a razão principal é a competição direta com resultados considerados mais autoritários ou úteis. O Google não está simplesmente trocando um link por um resumo de IA. Ele está avaliando qual formato e fonte oferecem a melhor experiência para aquela consulta.

1.1. O Fator da Autoridade e Confiabilidade (E-E-A-T)

O Google tem investido massivamente em aprimorar seu sistema para reconhecer a Autoridade, Confiabilidade e Experiência dos websites, um conceito conhecido como E-E-A-T (Experience, Expertise, Authoritativeness, Trustworthiness). Os AI Overviews são construídos para exibir informações que são apoiadas por resultados de alta qualidade da web. Quando a consulta do usuário demanda fatos concretos, o algoritmo pode priorizar fontes que já demonstraram ser líderes de confiança em seu nicho.

No caso da busca por “datas comemorativas”, websites como o datascomemorativas.me e calendarr.com são especializados nesse tipo de conteúdo e possuem um histórico de anos de publicações.

Indo mais a fundo, identificamos que a primeira vez que o Google rastreou estes sites foi há mais de 10 anos.

õ dadtascomemorativas.me foi indexado pela primeira pelo Google há 10 anos

Logo, para estarem ali nas primeiras prosições, possivelmente, suas publicações são precisas, atualizadas e com alta aderência por parte dos usuários. Para o Google, a confiança depositada nesses domínios pode superar o potencial de um resumo gerado por IA, que, apesar de factual, não carrega o mesmo histórico de credibilidade.

Uma das estratégias mais eficazes para demonstrar essa autoridade é a criação de Topic Clusters, uma metodologia que aprofunda a cobertura de temas relevantes e constrói uma rede de informações interligadas, sinalizando ao Google a sua expertise no assunto.

1.2. Relevância da Resposta e Formato do Conteúdo

A utilidade de um resultado não se mede apenas pela precisão, mas também pela forma. Para muitas buscas, um calendário, uma lista detalhada ou uma interface interativa em um site pode ser considerado mais útil e direto do que um parágrafo de texto gerado por IA.

Buscas por formatos específicos: Se o usuário busca uma lista completa de datas, como “datas comemorativas de 2025”, um calendário ou uma lista bem organizada em um site pode ser considerada a resposta mais útil. A IA do Google não consegue entregar a mesma experiência que o usuário teria no site.

Buscas com intenção mista: No caso da busca por “nota do Enem” (print da SERP, abaixo), a intenção primária do usuário é transacional: ele quer saber sua nota. No entanto, o Google não tem acesso a essa informação pessoal. Reconhecendo essa falha, o sistema de IA entende que a próxima melhor coisa a fazer é responder a uma intenção secundária e informacional: como ele pode obter essa nota. Por isso, ele exibe primeiro a resposta de um site de forte autoridade que pode guiar o usuário. Em seguida, ele tenta responder a dúvidas principais com um Query Fan-Out, desdobrando a consulta em “como ver a nota”, “como a nota pode ser utilizada”, etc. A IA é inteligente o suficiente para saber que a melhor resposta para a intenção inicial não pode ser dada por ela.

2. Por que o AI Overview não é exibido para determinadas consultas?

Além de disputar a posição no topo, há casos em que o AI Overview simplesmente não é exibido. A razão para isso está intrinsecamente ligada à intenção de busca do usuário.

Existem buscas para as quais a própria intenção do usuário e a natureza da consulta tornam a exibição de um resumo de IA redundante, desnecessária ou até mesmo contraproducente.

O Google tem o objetivo de entregar a informação mais útil, e isso nem sempre é um resumo de texto.

2.1. Buscas por Formatos Específicos e Experiências Multimídia

Para algumas consultas, o sistema entende que a resposta mais útil e rápida é um link para um site que já compilou a informação de forma completa e autoritária, pois um resumo gerado por IA apresentaria uma informação incompleta ou desorganizada.

A consulta “praias em Portugal” é um exemplo perfeito. A intenção do usuário é visual e exploratória. Ele quer ver fotos, ter opções e talvez até um mapa. O Google entende que um resumo em texto, por mais que tente listar as praias, não atende a essa intenção. O usuário precisa de uma experiência visual e exploratória, algo que um site de viagens, com galerias de fotos e mapas, pode oferecer de forma superior.

Tentar exibir um resumo ou aplicar um Query Fan-Out aqui, desdobrando em ‘praias no Algarve’, ‘praias em Lisboa’, etc., seria menos eficiente do que deixar o usuário explorar as opções visuais.

O AI Overview se mantém ausente de consultas que exigem experiências multimídia, como “como cantar afinado”. O sistema entende que uma resposta completa e útil para essa query só é possível com um vídeo que demonstra as técnicas vocais e exercícios práticos. A IA pode decidir “priorizar a informação visual se a pergunta do usuário puder se beneficiar de uma imagem ou vídeo”.

Viu? Nem toda ‘how to’ ou busca informacional gera um AI Overview. A análise da SERP é fundamental para entender a intenção de busca do usuário e o formato de conteúdo que o Google considera mais útil para aquele tipo de consulta.

Neste ponto, é importante explicar os diferentes formatos para intenção de busca informacional, em que o usuário quer aprender algo.

  • Intenção Informacional (Simples): Ex: “Qual a capital do Japão?”. O usuário busca um fato. Um AI Overview com um parágrafo de texto funciona perfeitamente.
  • Intenção Informacional (Complexa): Ex: “Como cantar afinado”, “como fazer churrasco”, “como dar nó em gravata”. O usuário quer aprender um processo que exige prática e demonstração.

Para a intenção informacional complexa, o Google entende que o texto não é o melhor formato para a resposta. A SERP para “como cantar afinado” é dominada por vídeos do YouTube e artigos com embeds de vídeo, porque a melhor forma de aprender a afinar a voz é vendo e ouvindo um instrutor.

2.2. Consultas de Tópicos Sensíveis e Perigosos

O Google prioriza a segurança e a confiabilidade. Por isso, os sistemas são refinados com o objetivo de “prevenir que AI Overviews apareçam em consultas sobre tópicos altamente sensíveis, explícitos ou perigosos”.

2.3. Buscas Transacionais

O AI Overview também se mantém ausente de buscas transacionais, onde a intenção de compra é implícita. Quando o usuário digita “celular samsung”, ele não quer um resumo das especificações técnicas; ele quer ver produtos, preços e onde comprar.

O sistema entende que a melhor resposta é uma listagem de e-commerces. Da mesma forma, em buscas onde o usuário pretende “tomar uma atitude ou concluir uma tarefa em um website (por exemplo, reservar passagens)”, a IA pode “incluir hiperlinks na resposta” em vez de um resumo.

2.4. Vazios de Dados (“Data Voids”)

O AI Overview foi projetado para exibir informações apoiadas por resultados da web de alta qualidade. No entanto, para algumas buscas (como pesquisas incomuns ou sem sentido), pode não haver muita informação de alta qualidade disponível na web. Nessas situações, o Google limita a exibição da IA para evitar que conteúdo enganoso, satírico ou inútil seja exibido.

Lembro que, assim que lançado, o AI Overview costumava aparece para mais consultas, mas creio que o buscador esteja realizando testes para exibir a IA de forma estratégica, e não como uma regra para todas as buscas.

Essa nuance mostra a evolução do Google AI Overview e AI Mode.  O algoritmo é inteligente o suficiente para discernir onde a IA realmente adiciona valor à experiência de busca, e onde a busca tradicional com “10 links azuis” ainda é a melhor solução. Entender os seus mecanismos, como o Algoritmo Muvera, é fundamental para dominar a nova era do SEO.

E o mais importante: a IA do Google está focada em fornecer a resposta mais completa e útil para a intenção inicial da sua consulta.

Como o SEO pode se adaptar a este novo cenário?

O AI Overview ainda é uma funcionalidade em evolução. O que vemos hoje pode não ser o que veremos daqui a seis meses, já que o Google está “continuamente aprendendo com cada lançamento” e “comprometido em melhorar seus processos quando necessário”.

Segundo o documento AI Overviews and AI Mode in Search, a empresa também planeja “transferir muitos recursos e capacidades do AI Mode para a experiência de Busca principal”, o que reforça a necessidade de os profissionais de SEO serem ágeis, monitorando constantemente as mudanças na SERP para os termos mais importantes de seus clientes. A análise da SERP se torna uma tarefa diária, não apenas pontual.

Isto reforça a importância de uma estratégia de SEO que vai além de palavras-chave. Para competir neste cenário dinâmico, os profissionais devem focar em:

Construir conteúdo de alta qualidade: Crie conteúdos que não apenas informem, mas que também ofereçam uma melhor experiência para o usuário. Para profissionais que buscam eficiência, o uso do Briefing SEO simplifica a pesquisa e o planejamento.

Otimizar para a Intenção do Usuário: Para identificar oportunidades e melhorar sua visibilidade no AI Overview, a ferramenta Google AI Mode Insights pode ser uma grande aliada, ajudando a encontrar os tópicos mais relevantes para o seu público.

Em conclusão, a posição do AI Overview nos resultados do Google não é um sinal de que a IA falhou, mas sim de que o algoritmo está funcionando como deveria: priorizando a utilidade, a confiabilidade e a experiência do usuário acima de tudo. Para nós, profissionais da área, esse cenário reforça a necessidade de um SEO mais estratégico e centrado no valor real que entregamos ao nosso público.

Lisane Andrade é CEO e cofundadora da Niara, uma ferramenta de SEO e Conteúdo com tecnologia de IA. Com mais de 16 anos de experiência prática no setor de SEO, ela é especialista em utilizar inteligência artificial para simplificar fluxos de trabalho, impulsionar o desempenho do conteúdo e impulsionar o crescimento real dos negócios.